Amamos aquilo que conhecemos
Karen Bueno – Chega quinta-feira e nas redes sociais aparecem fotos e imagens que remontam a bons momentos vividos. O Throwback Thursday, ou #TBT, é uma brincadeira que consiste em postar uma foto antiga, em alguma rede social, na quinta-feira. A tradução literal dessa expressão significa “retrocesso da quinta”, ou, traduzindo melhor, “quinta-feira do retorno ou do regresso”.
Casamentos, viagens, festas, nascimentos… são partilhados para que todos possam “curtir” e recordar. A brincadeira já acontece há um bom tempo na internet, mas continua integrando pessoas e despertando sentimentos de saudade e nostalgia.
Mas, isso tem alguma coisa a ver com Schoenstatt? Bem, na verdade não. Mas traz uma ideia que nos é bem familiar: valorizar o passado, torná-lo memória viva como uma mensagem para o presente e para o futuro. TBT é uma brincadeira simples, porém, quando feita de maneira sadia, ajuda a identificar as raízes e valorizar bons momentos, sem ficar preso ao que já foi.
Que fato da sua vida te faz sorrir?
Em 2018, a notícia do incêndio no Museu Nacional fez, de um dia para o outro, uma nação inteira acordar mais pobre e com sua identidade cultural ferida. Toda uma preciosidade de peças e artefatos consumiu-se; a própria história do Brasil foi engolida pelas chamas.
Esse fato nos chama a atenção para a importância de valorizar a história. Valorizar não apenas os marcos do país ou da região, mas a minha própria história de vida: Como viveram meus avós? Que desafios eles enfrentaram? Como meus pais se conheceram? Qual a primeira palavra dita pelo meu filho?…
Quem pertence ao Movimento Apostólico de Schoenstatt certamente já vivenciou a celebração de um jubileu. Ano a ano um novo fato histórico é recordado e celebrado – como, em 2022, os 75 anos do Ideal Tabor. Isso acontece para que a história não se perca e continue a motivar o presente e a inspirar o futuro.
Mas, valorizar o passado é realmente importante?
Para responder essa pergunta, basta olhar a Bíblia. Diversas passagens são dedicadas a conservar e evidenciar a história. A árvore genealógica de Jesus perpassa, no livro de Mateus, 42 gerações, desde Abraão (Mt 1,1-16.18-23). O Livro de Lucas vai além, iniciando a genealogia de Cristo a partir de Adão (Lc 3, 23-38). Os livros do Antigo Testamento são a grande herança deixada por homens e mulheres heroicos que, entre vários acertos e erros, construíram a nossa história da salvação – a minha e a sua, a de todos que virão.
E o que diz nosso Pai e Fundador?
Pe. José Kentenich sempre incentivou seus filhos a valorizarem o passado, como raiz do presente e do futuro. Ele próprio se alegrava ao celebrar jubileus e envolvia a todos nessas comemorações. Assim nos diz:
“… tenhamos sempre de novo, diante dos olhos, a história da nossa Família. Assim o fizemos logo após a Primeira Guerra Mundial […]. Porque para nós isto é de tamanha importância, agradeço a todos os que se esforçaram por escrever fielmente a história da Família, tanto em Dachau, como aqui. E aqueles que agora se dedicam completamente a esta tarefa, não deveriam acostumar-se, dia após dia, a registrar criticamente todos os acontecimentos? Observem o que se passa numa comunidade religiosa e vejam como é difícil encontrar um cronista para cada uma das suas casas! E, contudo, como é isso importante, porque os acontecimentos históricos são letras que o Deus vivo escreveu para, hoje ou amanhã, serem bem lidas e compreendidas”.
(Conferência de encerramento da Jornada de Dirigentes da Liga, Schoenstatt, fins de 1945)¹.
O Fundador também convida a sempre “deitar um olhar retrospectivo sobre a história” e descobrir nela o atuar de Deus, nas mais singelas situações: “Em si, deveríamos ser peritos neste domínio e ver claramente cada um dos fatos, mas, acima de tudo, também ter sempre de novo diante de nós a brilhar o pensamento: Deus está na história da nossa Família”².
Ele nos convida a sempre mais conhecermos nossa história pessoal, a história da nossa família, da nossa terra, a história da Igreja, de Schoenstatt, pois conhecer é amar! E assim nos aconselha: “Quando meditarmos sobre a história passada, reunamos material para aprofundar a nossa fé na missão. E, para nós, esse material são as coisas ordinárias, nas quais o mundo atual pouco repara” (Conferência para dirigentes da Liga Feminina, 29.12.1945)³.
A memória é também um tema querido ao Papa Francisco, que afirma: “Sem as raízes não é possível viver: um povo sem raízes ou que deixa perder as raízes, é um povo doente. Uma pessoa sem raízes, que esqueceu as próprias raízes, é doente. Reencontrar, redescobrir as próprias raízes e tomar a força para ir adiante, a força para frutificar e, como disse o profeta, ‘a força para florescer, pois o que floresce na árvore vem do subterrâneo” (meditações matutinas na Casa Santa Marta, 05.10.2017).
Referências:
1, 2 e 3: Peter Wolf. A sua missão, nossa missão – Textos escolhidos do Pe. José Kentenich